União e inovação: o caminho para o futuro do mercado de reposição automotiva
Publicado em Novo Varejo Ed. 405
O mercado de reposição automotiva é um dos pilares fundamentais da indústria automobilística brasileira. Sua significativa importância se evidencia nos números impressionantes que esse segmento apresenta. Com um faturamento estimado em 95,8 bilhões de reais, corresponde a 1,1% do PIB nacional, mostrando sua contribuição expressiva para a economia do país. Além disso, o mercado de reposição automotiva gera mais de 5.751.836 empregos, espalhados por toda a cadeia produtiva, o que ressalta sua relevância no cenário de empregabilidade nacional.
Com aproximadamente 101.769 oficinas mecânicas, 956 empresas na indústria, 1.140 empresas de distribuição e cerca de 13.435 empresas no varejo automotivo, o mercado de reposição automotiva é vital para a sociedade e tem garantido de forma satisfatória a necessidade pela manutenção e reparação veicular no Brasil, atendendo a uma frota crescente, que prevê alcançar 65,69 milhões de veículos em 2023, representando um crescimento de 3,7% em relação ao ano anterior.
No entanto, o mercado de reposição automotiva enfrenta desafios significativos. A competição acirrada, a redução das margens de lucro e a gestão complexa de estoques são questões que demandam soluções inovadoras para garantir sua prosperidade contínua. Além disso, a dificuldade de gerir o portfólio, a alta devolução de produtos e a falta de digitalização e padronização são obstáculos adicionais que as empresas precisam superar para se manterem competitivas. Todos esses desafios se mostram ainda mais graves quando percebemos a movimentação de diversas montadoras em restringir ainda mais os poucos recursos informacionais à disposição dos consumidores e dos agentes que trabalham com a reparação automotiva como seu principal negócio.
Um exemplo expressivo dessa movimentação é a restrição na coleta de dados e diagnostico em novos veículos que estão sendo produzidos sem acesso ao sistema OBD (On-Board Diagnostics), forçando os consumidores a buscarem serviços de diagnóstico exclusivamente nas redes de concessionárias da montadora. Essa prática tem sido crescente em diversas montadoras e prejudica a livre concorrência no mercado de reposição, dificultando a competição das oficinas independentes e limitando as opções de escolha dos consumidores. Medidas como essa tendem a gerar grande instabilidade econômica em um setor vital para a economia e sustentabilidade do país e devem ser refutadas com veemência por todos nós que trabalhamos no ecossistema da reparação automotiva.
O fato é ainda mais grave quando levamos em consideração que muitas montadoras (mesmo as que restringem as informações) demonstram total desinteresse com as demandas do “pós-vendas” (Mercado de Reposição). Geralmente, por parte das montadoras, só há foco, investimentos ou ações mais contundentes voltadas ao aftermarket quando as vendas de veículos novos são impactadas por crises. Além disso, esse interesse, quando existe, é limitado aos veículos em garantia ou seminovos, deixando à margem mais de 80% da frota nacional que é composta por veículos com mais de 4 anos de uso.
A falta de uma visão clara do que esperar impacta negativamente a previsibilidade para a cadeia de suprimentos e dificulta o atendimento adequado aos clientes. A ausência de um posicionamento sólido por parte das montadoras e a falta de união dos agentes comerciais do setor independente podem gerar um cenário de instabilidade tanto para as empresas do setor quanto para os consumidores, que poderão estar sujeitos a altos custos de manutenção e à falta de opções para reparar seus veículos quando a oferta se restringir apenas aos canais da concessionária.
Nesse contexto, o movimento “Right to Repair” (Direito à Reparação) emerge como uma pauta imprescindível para os empresários e profissionais do mercado de reposição. Movimentos que promovem a união e interação das representações de classe do aftermarket, como a Aliança Aftermarket Automotivo, também serão fundamentais para o desenvolvimento de soluções de longo prazo que priorizem os reais interesses do segmento. Afinal, o acesso a informações e o direito a uma concorrência justa deveriam ser a base fundamental para qualquer atividade econômica, especialmente em um segmento da envergadura e importância do Aftermarket Automotivo.
Aliado à busca pelo direito justo à reparação, os agentes do segmento precisam estar mais preparados para os desafios concorrenciais que se desenham. Neste sentido, urge a necessidade de padronização, ampliação dos acessos às informações e digitalização de processos, que permitirão que as empresas do segmento independente possam lidar estrategicamente com as restrições impostas, permitindo que os consumidores sejam atendidos de forma satisfatória em suas necessida des de reparo e manutenção.
Atualmente, o mercado dispõe de diversas soluções em tecnologias avançadas com baixo investimento, tais como sistemas de consulta de peças por meio da placa do veículo, chatbots de aplicativos de mensagens, marketplaces lastmile, sistemas B2B e outras ferramentas que não apenas promovem a produtividade e eficiência para o segmento, mas também oferecem abordagens estratégicas para atender e capacitar as oficinas independentes. Essas inovações beneficiam e conferem maior segurança aos consumidores, ao mesmo tempo que consolidam um mercado mais competitivo e tecnologicamente avançado para o setor automotivo no Brasil.
O mercado de reposição automotiva tem o potencial de conquistar um futuro ainda mais próspero e equitativo, fortalecendo ainda mais a economia brasileira e oferecendo serviços de qualidade para todos os proprietários de veículos no país. No entanto, para alcançar toda sua potencialidade, será imprescindível que os tomadores de decisão do setor ajam com visão estratégica e união, enfrentando os desafios e superando as restrições impostas, buscando negócios cada vez mais prósperos e previsíveis, consolidando assim nosso segmento de forma competitiva, transparente e centrada nas necessidades dos proprietários de automóveis do país.
Original: Novo Varejo Ed. 405